Comecei a frequentar estádio de futebol em 1988.
Tempos do BEC no Aderbal e no SESI.
No hexagonal final daquele estadual ei a ficar na arquibancada mais próximo da Blu Raça.
Não fazia parte da torcida organizada.
Apoiava o time.
Gostava daquela atmosfera.
O perfil do grupo era bem eclético.
Muitos da velha guarda.
Não recordo de nenhum encrenqueiro ou metido a valentão.
Tanto é que ei essas observações aos meus pais.
Fui pedir a benção para viajar com a turma.
Não, evidentemente, no mesmo ônibus dos principais integrantes.
Era um moleque de 16 anos.
Muito menos tinha intimidade com alguém.
Fui para ville, Itajaí e Florianópolis.
No Ernestão – na época não existia a Arena – nenhum problema.
No Dr. Hercílio Luz houve certa tensão após a partida.
Na Ressacada senti medo pela primeira vez ao sair de um estádio.
Acho que foram seis ou oito ônibus para a capital.
Não lembro bem.
Mesmo vencendo o duelo por 2 x 1 e comemorando o título, alguns avaianos decidiram apedrejar os ônibus blumenauenses.
Na hora das rajadas, que começou de repente, assustado, me joguei debaixo dos bancos.
Foi a única maneira que encontrei para me defender.
Mirradinho, consegui me enfiar naquele espaço apertado com um único objetivo: proteger a cabeça.
Vários estilhaços de vidro se espalharam pelo corredor.
Mas acredito que ninguém se feriu com gravidade.
Foi uma experiência bem assustadora.
Você só quer sumir dali.
Não me traumatizou, é verdade.
Mesmo assim, desde aquele 17 de julho de 1988, não viajei mais.
Menos de dois anos depois entrei para o rádio.
No período de uma semana, as delegações de Bahia, Grêmio, Cascavel e Náutico foram atacadas com pedras, paus, barras de ferro e até bomba!
Ainda tivemos a invasão de torcedores do Paraná Clube após o rebaixamento para a Série B estadual.
Soco de dirigente no 4º árbitro em um jogo no Rio Grande do Norte.
Isso é grave demais.
Inaceitável.
O goleiro Danilo Fernandes poderia ter perdido a visão.
Ou ter morrido.
Os caras atiraram uma bomba no ônibus do próprio time que dizem que torcem.
Não consigo acreditar em tamanha maldade.
O paraguaio Villasanti também escapou.
A rivalidade definitivamente cega as pessoas.
São motivações diferentes em cada caso.
Muitas vezes determinado hábito fora de campo acende o pavio do ódio.
Desde que tenha bom senso e não afete sua performance, jogador pode frequentar o lugar que quiser.
Sempre tem um boleiro vacilão (aqui em Blu tivemos alguns).
Que vai para o sereno depois de uma derrota pesada e humilhante.
Ou faz festa quando a fase do time não é boa.
Não soa bem.
Pode ser evitado.
De qualquer maneira, independentemente do seu comportamento, todos têm o direito de ir e vir.
Comprometimento ou não, à parte, existe uma falha grave nesse contexto.
Achar ou vaticinar que atleta não pode se divertir.
Que tem de ficar confinado na concentração.
Eles (e elas) sofrem uma pressão tremenda no dia a dia.
É academia, briga com a balança, treino, viagem, hotel, jogo…
Saudades da esposa, dos filhos, do pai, da mãe, da namorada, dos amigos…
Nem todo mundo consegue morar com a família.
Muitos dividem apartamento ou casa com quatro, seis e até 10 companheiros.
Compartilham solidão e incertezas.
Uma hora precisam relaxar.
É até chutar o balde.
Livre arbítrio.
Ação e reação.
Responsabilidades.
Vigilância constante.
Ser bem sucedido é perigoso.
Nada no entanto justifica tamanha selvageria.
A violência só muda de endereço.
Um câncer que se espalhou pelo país.
Que precisa ser extirpado.